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"E buscava a paz no por-do-solE a beleza nas auroras douradasAcreditava que a única luz que precisavaera das estrelas nas noites sem nuvens...Isso foi antes de conhecer vocêDe me aquecer com seu sorrisoAgora apenas as estrelas que brilham em seus olhossão suficientes para mim.Eu caminhava por campos ensolarados,com a brisa beijando meu rostoAcreditava que aquela suave carícia era tudo o que eu precisavaIsso foi antes de abraçar você, de encontrar prazer em seus carinhosAgora apenas os beijos que vem de seus lábios são suficientes para mim.Eu parava a noite na praia, e a maresia entrava em meus olhosAcreditava que nunca choraria lágrimas que não fossemaquelas do marIsso foi antes de perder você...Agora minhas lágrimas são de tristezasE elas não são suficientes para mim...Eu cantava canções para mim mesma, sem me importar com quem ia ouvir...Acreditava manter minha felicidade trancada dentro de mim...Isso foi antes de amar você...De me entregar sem reservas ou medos...Pois você é tudo que eu preciso e sempre precisareiE só o seu amor é suficiente para mim..."Dálkia Andréia
Não vou mais lavar os pratos. Nem limpar a poeira dos móveis. Sinto muito. Comecei a ler. Abri outro dia um livro e uma semana depois decidi. Não levo mais o lixo para a lixeira. Nem arrumo mais a bagunça das folhas no quintal. Sinto muito. Depois de ler percebi a estética dos pratos, a estética dos traços, a ética, a estática. Olho minhas mãos bem mais macias que antes e sinto que posso começar a ser a todo instante. Sinto. Agora sinto qualquer coisa. Não vou mais lavar os tapetes. Tenho os olhos rasos d'água. Sinto muito. Agora que comecei a ler quero entender o por quê, por que e o por quê. Exintem coisas. Eu li,e li, e li... Eu até sorri e deixei o feijão queimar. E olha que feijão sempre demora para ficar pronto...Considere que os tempos agora são outros...Ah, esqueci de dizer: não vou mais. Resolvi ficar um tempo comigo. Resolvi ler sobre o que se passa conosco. Você nem me espere,você nem me chame. Não vou. De tudo o que jamais li, de tudo o que entendi,você foi o que passou. Passou do limite, passou da medida, passou do alfabeto. Desalfabetizou. Não vou mais lavar as coisas e encobrir as sujeiras inteiras, nem limpar a poeira e espalhar o pó daqui para ali e de lá para cá. Desinfetarei minhas mãos. Depois de tantos anos alfabetizada, aprendi a ler. Sendo assim não lavo mais nada e olho a poeira no fundo do copo. Vejo que sempre chega o momento de sacudir, de investir, de traduzir. Não lavo mais os pratos. Li a assinatura de minha lei áurea. Escrita em negro maiúsculo, em letras tamanho 18, espaço duplo. Aboli. Não lavo mais os pratos. Quero travessas de prata, cozinha de luxo e jóias de ouro. Legítimas. Está decretada a Lei Áurea.
Cristiane Sobral